quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Afinal, quanto ao sexo, vale tudo para um casal?


A Igreja é muito discreta ao falar do ato sexual do casal cristão, mas não deixa de dizer, no Catecismo, que:

§2362 – "Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua doação, pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido" (GS 49,2). A sexualidade é fonte de alegria e de prazer".

"A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até a morte." (CIC, §2361; FC,11).

O Papa Pio XII já tinha dito há muito que:

"O próprio Criador (...) estabeleceu que nesta função (isto é, de geração) os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo os esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderação justa (g.m.)" (Pio XII, 29/10/1951).

Sabemos que é necessário e legítimo o prelúdio sexual, especialmente para a mulher atingir o orgasmo junto com o marido; mas o mais importante e o que a mulher mais precisa na verdade, para ter uma harmonia sexual com o esposo, é ser muito amada. O ato sexual não começa quando ambos vão dormir; mas desde quando se levantam para começar um novo dia.

Mas o que seria um ato sexual realizado "de maneira verdadeiramente humana"? De acordo com alguns estudiosos do catolicismo, seria algo "puro", sem praticas como sexo anal, sexo oral ou mesmo masturbação mútua, bem como o acesso a material pornográfico ou mesmo brincadeiras e carícias que pudessem levar ao orgasmo masculino sem a ejaculação no canal vaginal da mulher. É sim,... tem gente que pensa assim.



Bem,... está aberto o debate: se o que nos distingue dos animais quanto a sexualidade é, além de fazer sexo por prazer, dar e receber amor, não seria correto afirmar que todo e qualquer ato sexual entre um casal regido por seu mais profundo amor é algo verdadeiramente humano? Para alguns sim, para outros, nem tanto.

O fato é que a intimidade de um casal é apenas dele, tornando-se um dos valores mais sagrados que devem ser preservados na convivência matrimonial. Acima de qualquer regra deve sim prevalecer a conivência, a cumplicidade, a doação através do amor mútuo e a satisfação de ambos.

Mas afinal, o "vale tudo" é ou não é pecado?????

Existem interpretações cristãs capazes de ver pecado em tudo. E são mais do que simples pecados: são pecados mortais! Vejamos: faltar às missas dominicais, fazer compras aos domingos, laqueadura, vasectomia (por razões de controle de natalidade), controle de natalidade artificial (camisinhas, anticoncepcionais,etc), pensamentos e desejos impuros, imodéstia no vestir (o ato de vestir deve mais esconder do que revelar), beijos e abraços prolongados se causarem desejos sexuais,  casar de novo após divórcio, embriaguez, ler livros e materiais pornográficos, assistir filmes pornográficos e programas de TV idem, mulher usar roupa de homem, sexo antes do casamento…  Sejamos claros: todos estes incontáveis supostos pecados acabam por aprisionar os fiéis num mundo amedrontador, cercado de ameaças e de tentações proibidas.

Mas quem pode nos dizer o que é e o que não é pecado na vida sexual de um casal? Para nos ajudar nesta discussão, cabe aqui uma pequena consulta ao Evangelho de Lucas:

"Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados" (Lucas 6,37)

"Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão e não reparas na trave que está na tua própria vista?" (Lucas 6,41)


É lógico que limites existem para tudo. Nossa formação católica nos oferece orientações e palavras sobre o tema propiciando profundas reflexões. Estas, contudo, além  de sofrerem constantes releituras por parte de nossos sacerdotes, são, como propriamente ditas: orientações. Nosso Senhor nos deu o dom do Livre Arbítrio e assim vemos a necessidade de buscarmos formação para usa-lo de modo saudável e construtivo.


Portanto, podemos concluir que se torna um tanto complicado sustentar a ideia de que é um ato pecaminoso  um cônjuge propiciar ao outro um prazer sexual desejado por ambos mergulhados profundamente em sua intimidade matrimonial. Mesmo que possa parecer vir de encontro ao catecismo da Igreja, que, diga-se de passagem, também é passível de várias interpretações.

Além do mais, o mundo está cheio de pecados mais sérios, mais dolorosos e tristes. O próprio Papa Francisco recentemente deu a entender em um de seus pronunciamentos que está de saco cheio quanto a obsessão católica sobre casamento gay, aborto e contracepção (vide link). E o que isso significa? Talvez signifique que nosso Papa esteja pedindo para que nos voltemos a preocupações mais emergenciais agindo como cristãos em essência, voltados para uma visão mais global a respeito dos novos desafios do mundo moderno, que está cheio de verdadeiros e horrendos pecados.

E ele é o Papa...



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