quarta-feira, 8 de maio de 2013

Perda, luto e elaboração... Por que é tão difícil perder?

O que dizer neste momento quando tanto foi dito? Seria melhor calar, observar? Quem sabe, seja melhor trazer uma palavra para quem ficou, numa tentativa de entendimento de algumas coisas que acontecem na vida e que parecem não ter explicação, pois, perdas “são necessárias” e fazem parte, porém, nunca estamos suficientemente preparados para elas. O acontecimento mais cruel e que mais nos mobiliza é a perda de alguém próximo, ou a própria possibilidade desta perda, uma vez que o vínculo que mantemos com as pessoas é muito valorizado e necessário. Assim, quando há uma ruptura, a dor é inevitável, pois, não queremos e não desejamos perder, principalmente aqueles que amamos e acreditamos ser nossos “para sempre”.


Ao perdermos, entramos em contato com diversos sentimentos que normalmente tendemos a evitar, pois, não sabemos o que fazer, nem aceitamos perder nada, nunca. Isso ocorre porque nascemos absolutamente dependentes e somos capacitados à relações de interdependência. Essa é uma marca que está gravada em nós e guia nossa vida. Conseguir sair disso é muito difícil, é um desafio constante. Assim, toda perda está baseada no valor afetivo que, consciente ou inconscientemente, depositamos na pessoa que perdemos, o que foi vivenciado, planejado e construído. Nessa situação de separação de alguém que confere sentido à nossa existência, corre-se o risco de perder o significado da nossa, mantida através da vida do outro. Eis o grande desafio no momento em que perdemos: construir uma nova vida, sem este outro tão significativo, ou seja, elaborar esta perda, retomar o cotidiano, investir em outras relações.
Diante das perdas, desenvolvemos reações psíquicas que chamamos de Luto (dor e desorganização), uma experiência complexa que vai além do âmbito individual, pois, enlutar-se é estar envolvido em um processo de diversas transformações internas e externas, que podem gerar medo, dor, desamparo, culpa. Essas são respostas saudáveis e necessárias à perda sofrida. Visam transferir emocionalmente o vínculo estabelecido com quem perdemos, o que leva certo tempo, já que o enlutado está, reagindo, respondendo à privação, à perda do objeto amado e a tudo o que decorre dela, uma resposta à quebra do vínculo afetivo.
Justamente por isso, nesse momento, o mais adequado seria não fazer restrições às manifestações abertas do afeto relacionado à perda. Embora seja doloroso e exija um grande esforço, é fundamental que a pessoa enlutada passe pelo desespero, a raiva, a saudade, a desorganização para chegar à aceitação e reorganização da vida: “enfrentar” o luto; trabalhar a perda em si mesmo; buscar ajuda espiritual, psicológica e de pessoas conhecidas; estabelecer vínculos substitutivos e investir em outras atividades geradoras de prazer.


A Elaboração ocorre quando a pessoa perdida não é esquecida, mas, internalizada por quem a perdeu, sendo dado um novo sentido para a vida diante dessa nova realidade. Então, o recurso de partilhar todas as emoções vividas; do recolhimento para ter um contato mais próximo com as frustrações e as mudanças ocorridas; da ressignificação dos vínculos perdidos, é muito importante. Ressignificar é estabelecer uma nova forma de viver, de se relacionar com o acontecimento, consigo e com quem se foi. A pessoa precisa ter condições de tomar sua vida nas mãos e pensar em novas direções. O que importa é que haja um movimento em busca desta direção, mesmo que seja repleto de retrocessos.
Para que possamos ajudar, é fundamental compreendermos os sentimentos compartilhados, acolhendo e valorizando o momento vivido, apoiar e dar suporte afetivo através da simples presença. Não esquecer que a dor da realidade da perda é vivenciada juntamente com a tentativa de fazer algo diante deste sofrimento. Que o resultado final, respeitando o ritmo de cada pessoa, será a aceitação da perda, através da renovação das relações com novos significados, novas esperanças, não ficando fixado apenas na pessoa que se foi.
Quanto a essa dor que estamos vivendo, que nos atinge direta ou indiretamente... ela não pode nos derrotar, pois, nos trouxe a oportunidade de uma revisão interior, dos nossos valores, projetos, propósitos de vida. E, por mais que seja altamente exigente aceitar o que não podemos mudar, precisamos reconhecer a dor, os limites, a finitude, que nos direcionam para o processo de transformação interior, de aceitação da vida com todas as cores e nuances que a compõe.

Cristiane Bottoli - Psicóloga

(enviado por Tânia de Oliveira)

Um comentário:

Giuliano disse...
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